Por Samantha Buglione, no Jornal A Notícia
É com a chamada de um transporte público que realmente precisa ser
público que a Udesc/Esag, em parceria com o Laboratório de
Aprendizagem em Serviços Públicos da Esag, vai participar do Dia Mundial
sem Carro, na próxima quinta-feira.
Pedestres e carros - disputa constante |
A proposta da universidade é chamar atenção da comunidade sobre os
problemas de mobilidade urbana. Poderíamos até dizer que essa é uma
missão desnecessária, afinal, não conheço uma viva alma que já não tenha
sofrido com a mobilidade urbana, seja com um ônibus que nunca vem ou
uma linha que não existe, seja com engarrafamentos intermináveis.
A originalidade da proposta da Esag não está em mostrar o problema, mas
que é possível ir e vir sem carro. Segundo os organizadores, a ideia é
que os alunos e servidores da instituição utilizem o
transporte coletivo, a bicicleta, a carona ou se desloquem a pé no dia
22 de setembro.
O Dia Mundial sem Carro, observa o professor Enio Spaniol, “é apenas
uma data simbólica, pois deveríamos ter essa consciência de utilizar o
transporte coletivo e outras maneiras de deslocamento, todos os dias”.
Mobilidade urbana está diretamente vinculada ao planejamento público e à
garantia de direitos fundamentais da mais diversa ordem. Contudo, não é
algo que dependa unilateralmente de uma política pública. Não podemos
esquecer que as políticas de governo são sintomas da cultura. Uma
sociedade que não valoriza o transporte coletivo e outros meios de
locomoção (como bicicletas, caronas e andar a pé) não sente qualquer
estranheza com o sistema limitado que tem à disposição. Às vezes, só
viajando e experimentando outra lógica para que o absurdo do nosso dia a
dia salte aos olhos.
O
transporte público, nas principais cidades brasileiras, não é uma
alternativa de transporte, mas a única opção para quem não tem recurso
para comprar um carro ou uma moto. Assim que sobrar alguns tostões no
orçamento, o impulso será o de comprar um carro para si. É preciso,
antes de qualquer coisa, encarar o transporte público como
algo inteligente e bom. Para isso, o serviço oferecido deve ser de
qualidade, mas, igualmente, as pessoas precisam redefinir o valor da
coisa pública.
Roberto Da Mata mostra muito bem que no Brasil o público ou é coisa de
ninguém ou de marginal: mulher da rua, menino de rua são exemplos
emblemáticos de como se pensa a coisa pública por aqui (desviante,
abandonada ou sem dono). Enquanto o público não for percebido como algo
de todos, devendo, assim, estar sob o olhar cuidador de todos,
vamos sofrer não apenas com a (des)mobilidade urbana, mas com os outros
serviços também.
Por Samantha Buglione, no Jornal A Notícia (20/09/11)
bacharel e mestre em direito,
doutora em ciências humanas,
buglione@babele.com.br